Ribeiro da Pena - Um Caso de Estudo
Passados mais de cinco meses da catástrofe de 20 de Fevereiro, sinto o dever cívico de publicamente apelar à reflexão e ao debate técnico-científico para o que tem vindo a ser feito no segmento do Ribeiro da Pena (antigo Ribeiro do Valverde), entre a Quinta dos Reis e o Largo das Babosas.
Para quem tem a memória curta, relembro que, naquela negra manhã de sábado, a massa de água, lama e blocos rochosos que extravasou do ribeiro estrangulado matou 6 pessoas e destruiu muito património edificado.
Porque os documentos históricos nos informam, que pelo menos desde o século XVIII, o pequeno ribeiro tem revelado uma sanha assassina, cheguei a acreditar que a intervenção pós 20 de Fevereiro seria executada com base em cuidados estudos levados a cabo por uma missão multidisciplinar, liderada por um reputado professor do Instituto Superior Técnico.
Estava equivocado, e quando esta tarde olhava do alto para o Ribeiro da Pena, recordei-me desta quadra do António Aleixo:
“Quem prende a água que corre   É por si próprio enganado:   o ribeirinho não morre,   vai correr para outro lado.” |
As imagens que ilustram este artigo são muito mais clarividentes do que quaisquer comentários que eu aqui possa deixar registados. Apenas vos peço atenção para a quantidade de betão que tem sido gasto para construir um canal estreitíssimo, entre a estrada do Livramento e o caminho da Portada de Santo António. Reparem, que por baixo deste caminho mantiveram exactamente a mesma secção de vazão.
Estamos perante um caso de inconsciência? Ou duma obra com projecto assinado por um técnico especializado em hidráulica?
Mais a montante a paisagem continua deprimente, com ruínas e terras por limpar, ao alcance das objectivas dos turistas que sobem ao Monte de teleférico.
O que está a ser feito no Ribeiro da Pena deve constituir um caso de estudo para os especialistas em ordenamento do território e um motivo de indignação para todos os cidadãos que já tomaram consciência da força destruidora dos caudais lamacentos.
Texto e fotos de Raimundo Quintal
3 Comentário(s):
Muito boa reportagem. Mesmo depois do que aconteceu a 20 de Fevereiro, continuam a fazer os mesmos erros,como se explica um caudal destes, que matou tanta gente e agora voltam a o "prender" desta forma...agora quando ele se voltar a "soltar", porque vai um dia aconteçer, queremos ver quem dara a cara...ninguem ´´e claro!!!
Es una pena que no se hay aprendido de los errores y se sigan faciendo las cosas en contra del percurson de la Naturaleza... pero ya vendran tiempos en que lloraran estas imprudencias...
Y mejor trabajar "junto" a la Naturaleza y no intentar poner "puertas" al rio.....
Isto devia sair no Diário de Noticias para todos os Madeirenses poder ler e ver...
Infelizmente não é caso único, ao subir para o Terreiro da Luta via Monte, junto ao estaleiro que lá se encontra, passa-se exactamente a mesma coisa... pena... muita pena. Infelizmente os nossos governantes são muito pouco conscienciosos a nivel ambiental. Dizem uma coisa e autorizam outra.
Já Agora... Deixo Aqui uma palavra de lamento pelo Grandes Incêndios que devastaram o nosso parque Natural da Madeira.
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