10 outubro 2007

Concurso “Agir Ambiente”
OÁSIS NUM DESERTO DE MONTANHA

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Memória Descritiva da Candidatura

Em Março de 1994 a Câmara do Funchal criou o Parque Ecológico do Funchal, integrando nesta unidade especial de gestão uma vasta propriedade municipal com cerca de 1000 hectares, que ocupa a zona montanhosa sobranceira à cidade, entre a Levada dos Tornos (altitude = 600 m) e as proximidades do marco geodésico do Pico do Areeiro (1816 m).

A instituição do Parque marcou o fim dum período de quase abandono duma importante parcela do chão do concelho e o início dum novo ciclo de gestão do seu património natural. Em Outubro de 1995, contra ventos e marés, ficou concluído o duro processo de retirada das cabras e ovelhas. Extinto o pastoreio, que tinha contribuído para a desertificação das terras entre o Chão da Lagoa e o Pico do Areeiro, começava a longa etapa da recuperação da paisagem e da diversidade biológica das terras altas do Parque. A tarefa não se afigurava fácil, mas era enorme a vontade de levar avante um processo fundamental para a segurança da cidade e o aumento dos recursos hídricos. Só o retorno da formação vegetal indígena poderá travar a erosão, diminuir os riscos de cheias catastróficas (aluviões) e aumentar os caudais das nascentes.

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O sucesso do projecto passava, e passa, pelo empenhamento dos cidadãos nas tarefas de plantação e manutenção de muitos milhares de plantas em solos esqueléticos e num ambiente climático hostil. O trabalho voluntário afigurava-se como um precioso complemento para as múltiplas actividades que estavam sendo desenvolvidas pela limitada equipa de funcionários do Parque.

A 11 de Julho de 1996, foi constituída a Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal (AAPEF), a primeira associação madeirense reconhecida como Organização Não Governamental para o Ambiente de âmbito local (O.N.G.A. n.º 188) e Instituição de Utilidade Pública (Resolução nº 644/2001 do Conselho do Governo de 24/05/2001).

Em Setembro de 2001, já com uma grande e bem preparada equipa de trabalho, a Associação solicitou à Câmara autorização para concentrar a sua actividade na zona mais alta do Parque, na área do Pico Areeiro, entre os 1700 e os 1800 metros de altitude. O risco era grande, mas maior era o desafio de criar um oásis num deserto de montanha. Ali a autorregeneração era praticamente impossível porque todo o coberto vegetal tinha desaparecido e nalguns espaços já nem solo havia. Onde a rocha madre aflorava só com a criação dum novo solo em cada cova seria possível instalar as plantas pioneiras para uma nova sucessão biológica.

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Em Outubro de 2001 começaram os trabalhos. Todos os meses, pelo menos num sábado, os Amigos do Parque plantam ou fazem a manutenção de espécies adequadas às características daquele ecossistema. De Outubro a Março decorre o período de plantação, sendo em cada jornada introduzidas entre 400 a 600 plantas. Entre Abril e Setembro são executados trabalhos de manutenção e regas. Para que as plantas aproveitem da melhor maneira a água e sejam menos afectadas pelas variações de temperatura, as caldeiras são cobertas com uma camada de estilha. Para que o vento não moleste as plantinhas são construídas protecções de pedra. Só assim foi possível garantir uma taxa de sucesso que ronda os 70% num ambiente particularmente difícil.

Cerca de 6 ha (60.000 m2), que estavam completamente desertificados há seis anos, já ostentam as cores da biodiversidade graças ao trabalho voluntário e persistente dos Amigos do Parque Ecológico. Os piornos (Teline maderensis), começaram a cobrir-se de flores douradas em Abril e Maio de 2004. Em Junho e Julho desse ano as flores amarelas das andríalas (Andryala glandulosa ssp. varia) associaram-se de forma contrastante com o azul das belíssimas inflorescências dos massarocos (Echium candicans) plantados no Inverno de 2001. As estreleiras (Argyranthemum pinnatifidum ssp. pinnatifidum) também começaram a florir em 2004 e são cada vez maiores as manchas de flores brancas.

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A variegada floração de três arbustos endémicos da Madeira – piorno, massaroco, estreleira – e duma herbácea macaronésica – andríala – constituiu a primeira vitória na longa batalha de recuperação dum deserto pedregoso, criado durante cinco séculos de cortes de lenhas, incêndios e pastoreio intensivo.

A área, objecto de intervenção desde 2001, funciona como banco genético e foco difusor das plantas indígenas para as montanhas envolventes. O vento alísio tem-se encarregado de dispersar as sementes do massaroco, do piorno, da estreleira ou das urzes (Erica maderensis e Erica arborea).

Entretanto, largas centenas de loureiros (Laurus novocanariensis) e cedros-da-madeira (Juniperus cedrus ssp. maderensis) crescem com aspecto saudável, o que confirma a justeza da sua selecção como as espécies arbóreas adequadas ao ambiente climático da alta montanha, caracterizado por expressivas amplitudes térmicas diurnas e anuais, períodos de ventos fortes, formação de geadas, precipitação de neve e granizo, grande variação da humidade atmosférica e do solo entre o Inverno e o Verão.

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Paralelamente a Associação desenvolve um programa educativo para crianças e adolescentes pobres ou com problemas de integração social, que partilham com os menos jovens, um sábado em cada mês, o estimulante desafio de recuperar a biodiversidade que existia na cordilheira central, quando a ilha começou a ser povoada pelos portugueses na primeira metade do século XV.

Para além das espécies plantadas, prosperam outros endemismos cujas sementes ali chegaram transportadas pelo vento: armérias-da-madeira (Armeria maderensis), leitugas (Tolpis macrohiza), plantagos-da-madeira (Plantago maderensis) e goivos-da-serra (Erysimum bicolor).

Mas nem só as plantas estão regressando. Durante a floração dos massarocos é belíssimo o espectáculo das borboletas. Aproveitando os esconderijos criados pela nova vegetação, os casais de corre-caminho (Anthus berthelotti madeirensisis) escolhem aquele espaço para nidificar.

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Desde a primeira hora a Associação dos Amigos do Parque Ecológico tem contado com a colaboração da Câmara Municipal, que cede os autocarros para o transporte dos participantes nas diferentes actividades, autotanques para a rega e disponibiliza plantas produzidas no viveiro da Ribeira das Cales. Em 2003 e em 2007, por falta de capacidade deste viveiro, foram solicitadas plantas à Direcção Regional de Florestas, que permitiram cumprir o plano de plantação.

Em Outubro de 2005, a AAPEF adquiriu o Montado do Cabeço da Lenha, um terreno com 5,3 ha, situado junto ao Parque Ecológico, com o objectivo de criar um Campo de Educação Ambiental. A casa (Cabana Dr. Rui Silva), já recuperada, funciona como centro de educação ambiental.

Decorre o trabalho de erradicação das espécies infestantes (Eucalyptus globulus, Ullex europeus, Cistus monspeliensis) e de plantação de espécies indígenas.

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Nesta área há uma excelente autorregeneração de três urzes (Erica maderensis, Erica arborea e Erica platycodon ssp. maderincola). Nas clareiras, com o objectivo de recuperar a biodiversidade da formação vegetal primitiva, foram introduzidos loureiros (Laurus novocanariensis), tis (Ocotea foetens), vinháticos (Persea indica), folhados (Clethra arborea), cedros-da-madeira (Juniperus cedrus ssp. maderensis), paus-brancos (Picconia excelsa), sanguinhos (Rhamnus glandulosa), tintureiras (Frangula azorica), faias-das-ilhas (Myrica faya), uveiras-da-serra (Vaccinium padifolium), piornos (Teline maderensis), massarocos (Echium candicans), estreleiras (Argyranthemum pinnatifidum ssp. pinnatifidum), leitugas (Sonchus fruticosus), aipos-do-gado (Melanoselinum decipiens), gerânios (Geranium palmatum), ranúnculos (Ranunculus cortusifolius) e orquídeas-da-serra (Dactylorhiza foliosa).

Em 2006 foi aberto um trilho no Campo de Educação Ambiental do Cabeço da Lenha. Tem uma extensão de 4250 metros e percorre terras entre os 1540 m e os 1350 m de altitude. Foi traçado com o objectivo de fornecer informações sobre a origem e evolução geológica da Ilha da Madeira, a relação clima - vegetação - recursos hídricos, a morfologia das bacias hidrográficas e o carácter torrencial das ribeiras.

As visitas têm o carácter duma acção de formação e, para além dos sócios, privilegiamos os grupos de empresas ou sindicatos ligados ao sector do turismo, porque entendemos que os trabalhadores dos hotéis, restaurantes, agências de viagens e empresas de transportes, devem conhecer e estar preparados para defender e divulgar o património natural da Madeira.

Foto de Valério Andrade

Os participantes recebem um certificado com a indicação dos temas tratados durante as três horas do percurso.

É chegada a altura de organizar uma campanha de divulgação destes dois projectos, que são pioneiros na Madeira.


a) Objectivos

A campanha terá como objectivo central, provar que é possível fazer algo de concreto para inverter o processo de desertificação das montanhas da cordilheira central da Ilha da Madeira, que decorre desde o século XV e que tenderá a agudizar-se com as alterações climáticas previstas nos estudos realizados no âmbito dos projectos SIAM II e CLIMAAT II.

Deverá integrar uma componente interna, com o objectivo específico de atrair novos voluntários, residentes ou turistas, para colaborar nos dois projectos em curso e se possível alargá-los.

E uma componente externa, com objectivo de dar a conhecer a nossa experiência, que poderá ser útil para outras ilhas e regiões montanhosas vítimas de processos de desertificação semelhantes.

b) Meios humanos e materiais

Para concretizar os objectivos enunciados será necessário criar um folheto e realizar um documentário em torno da ideia geradora “OÁSIS NUM DESERTO DE MONTANHA”.

A Associação dispõe de recursos humanos capazes de elaborar o folheto e realizar o documentário, o que diminuirá substancialmente os custos de edição e de produção.

c) Resultados esperados

Com a divulgação das nossas experiências no domínio da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, esperamos contribuir para o reforço do voluntariado na área do Ambiente, e para o aparecimento dentro e fora da Madeira de associações vocacionadas para ajudar a Natureza a recuperar o equilíbrio perdido em resultado de inadequadas acções antrópicas.

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